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Aboio Urbano

Joelson de Souto

Meu aboio é urbano

Eu canto o que vivo e vejo

Satisfaço meu desejo

Com a fumaça do cano

Talvez veja o fim do ano

Pelos lixões da cidade

As sobras da humanidade

Serão o meu alimento

O que digo não invento

Quase tudo é verdade

 

Meu aboio é pesado

E vem pra denunciar

Aquele que escutar

Sairá extasiado

Esquecerá o passado

Imaginará o futuro

Com o ar bem limpo e puro

Com pessoas mais honestas

Dançando nas nossas festas

Colhendo o fruto maduro

Meu aboio é diferente

Porque clama por justiça

E a todos enfeitiça

Co’essa viola plangente

Que dá o tom descontente

Com os donos do poder

Que só vivem a querer

Desvalorizar a cultura

Cavar nossa sepultura

Mas vamos sobreviver

 

Meu aboio é retirante

Pra tudo eu tenho jeito

Luto em guerra, ganho pleito

O meu verso é rompante

Não me torno arrogante

Luto mesmo com humildade

O que digo é verdade

Você pode ter certeza

Vou tocando com destreza

Esse aboio da cidade

Meu aboio denuncia

A covardia da gente

Que se não rouba mas mente

E calúnias pronuncia

Não vai à delegacia

Contar o que há de errado

Só sabe ficar parado

E falando mal de tudo

Quando sei, não fico mudo

Meu aboio é revoltado

 

Meu aboio fala sério

Não está de brincadeira

E não leva nem à beira

Da solução do mistério

Desde o tempo do império

Do imperador Trajano

Canto os males do engano

Com toda veracidade

Escutem por caridade

Mais um desabafo humano

Meu aboio é libertário

Canto que quiser agora

Sei onde a fome mora

Com seu jeito sanguinário

Político e partidário

Poesia da pobreza

Desafiando a beleza

Por isso que eu semeio

As sementes pelo meio

Confio na natureza

 

Meu aboio chega ao fim

Pegado na poesia

Sabia mas não dizia

Que vou terminar assim

Cantei o bom e o ruim

O humano e o desumano

Cantei o desejo insano

A mentira e a verdade

Porque tudo isso cabe

Nesse aboio urbano

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